sexta-feira, 3 de outubro de 2008

INVESTIMENTOS E INVESTIDAS


Eram cerca de 23:40h quando cheguei hoje em casa após mais um dia de estudos, principalmente tratando-se da “Death Week”, nome carinhoso dado pelos alunos da sala à semana de provas. Como rotina, decidi acessar a Internet a fim de descobrir o que se passou ao redor do mundo, enquanto estive com os olhos grudados nos livros. Ao abrir a página de um jornal on-line de grande circulação dou de cara com a notícia de que a Secretaria Estadual de Segurança PÚBLICA (só para ficar claro, PÚBLICO, segundo o minidicionário Soares Amora, diz que: “1. Que se refere ou pertencente AO POVO; 2. que serve para o uso de TODOS”) do Rio de Janeiro havia comprado seu mais novo “brinquedinho”, o helicóptero blindado Estadunidense no valor de R$ 8 000 000,00 (Oito Milhões de Reais), o que denominaram “caveirão do ar”, alusão – para quem não sabe – ao carro blindando usado pela polícia nos confrontos contra os bandidos dos morros carioca.

O Superblindado dos ares agora faz parte da frota da referida Secretaria e será usado, segundo a notícia, em operações conjuntas com a Polícia Civil. Bem, o que começou a me deixar encrencado foi o seguinte questionamento, será mesmo quanto o Estado tem investido (eficazmente) na educação, saúde e amparo das milhares de pessoas que vivem abaixo da miséria? Neste sentido, surge-me a indignação do presente momento. Não contente em entrar nos morros apenas para devastarem as vidas dos que lá moram, com a manutenção e aceitação da miséria, efetuando uma espécie de “limpeza social”, isto é, simplesmente eliminando todos os que não se adaptaram (ou não conseguiram se adaptar) ao sistema imposto, eles agora se renovam para continuar na “Guerra contra o tráfico”, ou seria guerra contra os excluídos?

Um outro fato interessante chama-me a atenção, o veículo estará sobre a guarda da Secretaria de Segurança Pública do Estado do Rio de Janeiro, neste momento, como já foi transcrito em parágrafo anterior, a quem se refere a Publicidade da Secretaria? Isto é, quem são os verdadeiros segurados da Secretaria? A que Público a Secretaria Pública defende de fato? Percebo então a contínua reprodução de um sistema de “contenção social”, no qual a saída nunca é a resolução do cerne do problema, mas sempre o amparando em medidas supérfluas para conter aqueles que são tidos como “dejetos” da sociedade.

O “caveirão do ar” como foi denominado, provavelmente vem cumprir, como seu parente terrestre, o “brilhante” papel de conter o avanço das classes pobres sobres os bens dos ricos, amenizando, a tal guerra de classes disparada pela alarmante desigualdade social existente no país, uma guerra dos que têm contra os que não têm, enquanto isso, a educação, a saúde, a moradia, são valores perpetrados na aniversariante do mês, a Constituição Federal da República – a “Constituição Cidadã” – são esquecidos em prol de uma Publicidade de poucos, ou seja, o termo Público, é deturpado em prol de uma única classe.

Não que eu defenda o não investimento em segurança, mas ao passo deste deve ser feito um vasto investimento de transformação efetiva da sociedade com medidas válidas, e não meros paliativos, nos quais se usará da força para continuar mantendo os revoltosos afastados da PUBLICIDADE e da CIDADANIA que versa a Constituição. Ao passo disso, continuamos indiferentes à realidade, escondidos sob o manto de nossos ar condicionados, com os fones em nossos ouvidos e com os vidros fechados à realidade, continuamos presos em nossas “bolhas”, e ficamos satisfeitos com essa manutenção dos “excluídos”... E assim percebemos, mais uma vez, um Investimento Público tornar-se uma investida contra a CIDADANIA do público brasileiro.

São Luís – MA, 02 de outubro de 2008.

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